Reflexões sobre o nazismo e as nossas responsabilidades

Quando pensamos que já vimos tudo, ainda temos mais a saber sobre o que os judeus sofreram na época do nazismo ou mesmo depois disso. Pouco a pouco, a verdade, os relatos de pessoas, vidas que se perderam vêm à tona. Nada que saibamos sobre a história judaica dos sobreviventes ao holocaustos deixa de nos assombrar e revela o quanto pessoas sofreram por essa página horrenda da história mundial.
Hoje eu assisti o filme o Pianista. Outro dia assisti um vídeo na página do msn. Outros mais trazem esse assunto à tona. Não sei se revolta a você o que vê ali, mas revolta-me a mim.
O que um ser humano é capaz de fazer ao outro? Quanto sofrimento é capaz de provocar?
Qualquer coisa que se diga, que se revele do Nazismo, de suas vítimas (histórias, relatos, memórias, números de parentes mortos ou desaparecido), do extermínio de milhões de pessoas nem se aproxima do que verdadeiramente foi aquilo, do que representou para os que ficaram, para os que sobreviveram, para os que nos contam suas histórias, suas perdas e cicatrizes.
Estar vivo diante de toda a família que foi separada e levada para lugar desconhecido, entregue a todo tipo de crueldade, pode ser considerada felicidade, uma oportunidade do destino ou uma fatalidade?
Em nome do que se tira as liberdades básicas e individuais de pessoas? Em nome do que tira-se o direito à vida, a liberdade de ir e vir, delimitando espaços, lhe relegando condições mínimas de existência?
Desde quando as pessoas ou um grupo delas foram nomeadas a "libertarem" o mundo da existência de outros grupos por elas discriminadas? Quem lhes dá esse poder? Quem lhe retira?
Como o mundo percebe essa situação nos dias de hoje? Como reage? Que reflexos nos comportamentos registados em umas das páginas "negras" (e até esse termo é discutível!) da história da humanidade?
Quem pagará a conta dos sonhos que foram tirados a esses jovens? Se fossem só os sonhos! Quantos não chegaram a viver para lamentar os sonhos roubados por terem se atrevido a perguntar para onde os alemães os levavam ou porque assim foi determinado por ordens nazis superiores.
Nem tempo tiveram muitos para chorar seus mortos. A muitos foi negado a capacidade de reacção aos entes que iam morrendo diante de seus olhos.
Cada minutos de seus dias eram carregados de sobressaltos, pios não sabiam se no minuto seguintes estariam vivos. Todos estamos sujeitos a morrer em qualquer eventualidade. Basta estarmos vivos. Mas naquela situação, bastava que um soldado alemão escolhesse um judeu qualquer e no minuto seguinte, este aumentava a estatística de judeus mortos na Alemanha, Polónia e outras partes do mundo.
Foi extermínio puro e os exterminados sabiam que iam morrer.
Foi desumano e não tiveram como se defender.
E quanto demorou para a ajuda chegar!
Permanecer vivo em tempos como aquele devia-se a favores caso se conhecesse alguém com influências do outro lado, suborno, pela "boa vontade" ou "bom humor" de algum soldado.
Num frio de lascar (para quem conhece o inverno europeu e de qualquer país do norte ou extermidade do planeta, sabe que não é brincadeira, nem para esquecer), as pessoas andavam andrajosas (pelo menos no Brasil, na época da escravatura, havia o calor e os escravos recebiam tecidos com os quais constituíam suas vestimentas), se alimentavam parcamente, mas eram submetidas a todo tipo de trabalho. E tinham que dar graças por estarem vivos.
Eram as vítimas de soldados alemães em suas torpes, desumanas, indignas e inomináveis diversões. (Houve dentre os soldados aqueles que ajudaram alguns judeus, mas foram poucos e até entende-se porque. Ajudar um judeu era punido com morte)
A punição para quem ajudasse um judeu era a forca. Por isso, toda e qualquer ajuda que ocorria se dava em meio a muitas dificuldades, perigos e secretismos.
Viviam ou sobreviviam das rações de comidas que recebiam. A batata era o elemento principal nas refeições, quando havia.
Foram separados por muros, por distâncias desconhecidas, pelo silêncio, ausência de informações ou por palmos de terra dos seus familiares e afectos.
"Não sei de que lado do muro estou" (trecho do filme)
Reviravoltas de emoções: ira, nojo, medo, horror, pavor, desespero, tristeza, ansiedade, receios, surpresa, etc, etc, etc.
Qual era o melhor papel diante de tudo que as pessoas viveram? Haveria um papel assim? Mas onde se queria estar, onde se poderia estar? Para alguns, bastaria estar longe de toda a tristeza e desespero. Mas como esquecer os que ficaram? Como sorrir e dormir sossegadamente quando outros ainda gemem e choram?
Não há como apagar tudo que aconteceu naqueles anos. Mas não se pode fazer uma coisa: esquecer. Nem deixar que algo se repita em nossa história, em nossos actos, em nossas mentes, em nossas vidas.
Com a vida não fantasia-se. Não se recupera ou trazem de voltas as pessoas que morreram. Não se desfazem palavras, erros, acções. Não se corrige o passado. Mas se pode escrever uma nova história, inventar uma nova página, buscando-se não cometer os mesmos erros, mas de olhos postos naquilo que já ocorreu. É necessário não descuidarmos da discriminação, dos separatismos, dos selectivismos que ainda andamos a fazer.
Temos que aprender com a vida. Para que as pessoas não morram por nossos erros e principalmente, por nossas ideias.
Boa reflexão!

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